quarta-feira, 22 de setembro de 2010

BEM-ESTAR

Atividade física e câncer

Rossman Prudente Cavalcante
Diretor geral Personal Care


O câncer é, provavelmente, dentre as doenças crônicas não transmissíveis, a mais temida para a maioria dos indivíduos e sua prevenção representa um forte estímulo para a tomada de decisão em relação à mudança do estilo de vida, ainda mais que as evidências têm mostrado interferência da prática de exercícios físicos na incidência de alguns tipos específicos de câncer.

Na perspectiva do paciente com câncer, os dois assuntos mais importantes são a sobrevivência e a qualidade de vida. Com relação à qualidade de vida, estudos científicos cada vez melhor controlados mostram benefícios evidentes que vão desde a forma como o paciente lida com a doença, maior capacidade de desempenhar suas tarefas rotineiras e até diminuição dos efeitos colaterais da quimioterapia. Interessante observar que estas modificações salutares ocorreram tanto com a prática de exercícios aeróbios quanto com o treinamento resistido, conhecido como musculação.


É importante ressaltar que a ligação entre o câncer e o sedentarismo é difícil de ser estabelecida, devido à sua complexidade e interferência de inúmeras variáveis confundidoras (outros fatores do estilo de vida, por exemplo) no processo. Apesar dessa dificuldade, tem aumentado o número de estudos que apresentam uma relação positiva entre um estilo de vida mais ativo e prevenção contra determinados tipos de câncer, principalmente: intestino, próstata e mama.

As causas diretas do “efeito protetor” da atividade física sobre o câncer ainda permanecem obscuras, porém o efeito indireto, descrito com clareza em vários estudos epidemiológicos, está relacionado a uma diminuição da exposição aos principais fatores de risco e uma maior ativação do sistema imunológico.

O fato da prática de exercícios físicos ainda não ser uma unanimidade nas recomendações médicas após o diagnóstico de câncer decorre de algumas preocupações inerentes à condição clínica do paciente. Porém, apesar dos questionamentos e de todas as condições limitantes para a prática convencional de exercícios físicos, recentes revisões sistemáticas sobre o impacto do treinamento físico em indivíduos com câncer parecem demonstrar um impacto positivo em relação a diversos aspectos. Entre os psicológicos: ansiedade reduzida, menor depressão, vigor aumentado, aumento da autoestima e do auto-conceito, maior sensação de controle, melhor qualidade de vida geral. Já nos aspectos fisiológicos: hemoglobina aumentada, maior atividade das células "killer", fadiga reduzida, menos náuseas, vômitos e diarreias, maior controle da dor, maior aptidão física e menor duração da redução de glóbulos brancos e plaquetas.*


A prescrição segura de exercícios para o portador de câncer requer participação ativa e integrada de todos os profissionais envolvidos no tratamento, conscientização do paciente sobre suas possibilidades e limitações para o treinamento e respeito às características específicas das diferentes manifestações da doença: tipo de câncer e tratamento aplicado, comprometimento dos sistemas envolvidos, presença de outras doenças, complicações derivadas do tumor e das áreas metastásicas, consequências estruturais e funcionais do tratamento, motivação e nível de aptidão física do paciente.

Em suma, assim como em outras condições restritivas de saúde, não é possível determinar um protocolo padrão de exercícios para o paciente com câncer. O consenso recai sobre a necessidade de respeitar os limites de conforto do praticante, a necessidade de preservar um estilo de vida independente e na certeza que durante a prática dos exercícios físicos o indivíduo está investindo na sua qualidade de vida.

* Adaptado do ACSM’s, Pesquisas do ACSM para a fisiologia do exercício clínico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

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